Ruben Salvador Germinaro: A lenda do Argentino Voador que marcou época no Grêmio

 


Ruben Salvador Germinaro: o Argentino Voador que marcou época no Grêmio

Quando o goleiro Sérgio deixou o Estádio Olímpico no final de 1956, o Grêmio se viu diante de uma missão fundamental: encontrar um substituto à altura de um dos nomes mais respeitados da época. A direção tricolor analisou alternativas e, guiada pela reputação da escola argentina de goleiros, recorreu a Ruben Salvador Germinaro. A escolha não demoraria a se justificar. Germinaro trazia consigo passagens por Platense e Vélez Sarsfield, clubes tradicionais da Argentina, e chegou ao Grêmio em um momento decisivo, já que o time defendia os títulos de Campeão Metropolitano e Campeão Gaúcho ao iniciar o ano de 1957.

Sua estreia chamou imediatamente a atenção do público gaúcho por dois motivos: a segurança com que defendia bolas aéreas e a camisa amarela que utilizava, algo absolutamente fora do padrão da época. Até então, goleiros vestiam quase exclusivamente o tradicional uniforme preto. A presença daquela camisa amarela contrastando com o gramado e o uniforme do Grêmio se tornaria, rapidamente, um símbolo do novo goleiro. Somada às defesas acrobáticas, ganhou força o apelido que atravessaria gerações: o “Argentino Voador”.


Germinaro atuou no Grêmio por três temporadas, entre 1957 e 1959, período em que ajudou a manter a hegemonia tricolor no Rio Grande do Sul. Logo em seu primeiro ano, levantou o Bicampeonato Metropolitano e o Bicampeonato Gaúcho. Suas atuações sólidas confirmaram que a confiança da direção havia sido bem depositada, e o goleiro se tornou uma peça fundamental no esquema de Oswaldo Rolla, o “Foguinho”, treinador que conduzia o clube naquele período.

Em 1958, Germinaro seguiu acumulando títulos, com o Tricampeonato Metropolitano e o Tricampeonato Gaúcho. Mas esse ano marcou também um dos jogos mais lembrados pelo torcedor gremista: a vitória por 4 a 0 sobre o Santos, time de Pelé e Pepe, em amistoso realizado no Estádio Olímpico em 25 de setembro. Naquela noite, o Grêmio jogou com intensidade e qualidade, e Germinaro completou a obra com uma atuação impecável, “fechando” o gol e contribuindo para uma das grandes exibições da história tricolor.

O ano de 1959 seria ainda mais marcante para o goleiro argentino. Ele participou da conquista do Tetracampeonato Metropolitano e do Tetracampeonato Estadual, consolidando o domínio gremista sobre seus adversários. Esses títulos compuseram uma sequência que ficaria para sempre registrada como os “Doze Títulos em Treze Anos”, uma das eras mais vitoriosas do futebol gaúcho. Germinaro também esteve presente na histórica goleada por 4 a 1 sobre o Boca Juniors, na mítica Bombonera, com quatro gols de Gessy Lima, resultado que até hoje é lembrado como um dos maiores feitos do Grêmio em solo estrangeiro. Nesse mesmo ano, o goleiro enfrentou a Seleção do Uruguai, em um amistoso preparatório dos uruguaios para o Campeonato Sul-Americano, e ajudou a garantir o empate em 1 a 1, mais uma atuação que reforçou sua reputação.


Ao final de 1959, Germinaro encerou sua passagem pela Azenha. Deixou o clube com inúmeros admiradores e um legado consolidado entre os torcedores que presenciaram suas defesas decisivas e seu estilo único. Seu retorno à Argentina o levou ao Huracán, onde atuou em 1960 e 1961, disputando 18 partidas. Depois, passou também por Sarmiento, Deportivo Morón, Danubio e Guaraní. Como treinador, iniciou carreira no Brasil, onde comandou equipes como Guarany de Garibaldi, São Borja e Carlos Renaux.

A trajetória completa do goleiro Ruben Salvador Germinaro remonta ao seu nascimento em 1º de junho de 1930. Antes de chegar ao Grêmio, sua carreira havia passado por clubes como Ferro Carril Oeste, Argentinos Juniors (1951), Platense (1952-1954 e 1956), Vélez Sarsfield (1955) e Independiente Rivadavia de Mendoza (1956). Pelo Grêmio, viveu seu auge, consolidando sua imagem como um dos grandes goleiros de sua geração.


Mas há um aspecto de sua história que merece destaque especial e correção urgente na memória brasileira: a verdadeira origem da camisa amarela usada por goleiros no país. Durante décadas, a mídia esportiva do centro do país atribuiu ao goleiro Raul Plassmann o feito de ter sido o primeiro a vestir uma camisa amarela no Brasil. Segundo essa versão equivocada, na estreia de Raul pelo Cruzeiro em 1965, faltou uma camisa disponível para ele, e a solução improvisada teria sido uma peça na cor amarela, o que teria rompido a tradição do uniforme preto dos goleiros.

Essa narrativa, no entanto, não se sustenta quando observamos os fatos. Anos antes, já em 1957, Ruben Salvador Germinaro havia utilizado de forma pioneira a camisa amarela no Brasil durante seus jogos pelo Grêmio. E mais: sua camisa amarela não era improvisada, mas sim confeccionada com os tradicionais forros utilizados para proteger cotovelos e peito, como era costume nas camisas de goleiro da época. Quando Germinaro estreou com essa peça inovadora, Raul Plassmann ainda tinha apenas 13 anos de idade. Portanto, é incorreto dizer que Raul inaugurou a cor amarela entre os goleiros brasileiros.


O pioneirismo de Germinaro é inegável. Sua chegada ao Brasil alterou um padrão histórico e influenciou diretamente a evolução visual dos uniformes de goleiro. Ele foi, de fato, o primeiro a romper com o tradicional preto, trazendo para os campos brasileiros uma cor que, com o tempo, se tornaria amplamente aceita e até mesmo icônica. Ao lado dessa inovação, deixou também sua marca dentro de campo, com defesas importantes, títulos expressivos e partidas históricas.

O time do Grêmio ao final da década de 1950, no qual Germinaro se destacou, contava com nomes como Orlando, Aírton Pavilhão, Ortunho, Elton, Ênio Rodrigues, Giovanni, Gessy, Rudimar, Milton e Vieira, sob o comando de Oswaldo Rolla, o “Foguinho”. Essa equipe marcou época e consolidou um período de triunfo que até hoje é lembrado pelos torcedores tricolores.

Assim, contar a história de Ruben Salvador Germinaro é recuperar não apenas o talento de um goleiro excepcional, mas também resgatar a verdade sobre um capítulo importante do futebol brasileiro. O “Argentino Voador” não só defendeu o Grêmio com maestria, como também entrou para a história ao introduzir a camisa amarela no país — um detalhe que, embora simples, carrega um enorme simbolismo para a evolução do esporte.

Hoje, quando se fala em goleiros argentinos que fizeram história no Brasil, o nome de Germinaro precisa ser lembrado com justiça. Seu legado permanece vivo não apenas nos títulos conquistados, mas na própria imagem do goleiro moderno, que expressa personalidade e identidade através das cores que veste. No caso de Germinaro, essa identidade brilhou em amarelo, e iluminou uma das eras mais vitoriosas da história gremista.

🔵 Sobre o Acervo Grêmio Copero

Este conteúdo faz parte da restauração histórica do antigo site Grêmio Copero , preservando textos, registros e memórias do futebol tricolor que marcaram época na internet.

Hoje, o projeto segue vivo e ampliado através do portal Grêmio Histórico , que é o sucessor oficial desta iniciativa e continua produzindo conteúdo atualizado, análises, história e cobertura completa do Grêmio.

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